martes, 5 de diciembre de 2006

Rio pode perder o jogo para a poluição no Pan

Tulio Brandao
O Globo
Brazil
Foto: www.mundoaoleo.blogspot.com
Degradação ambiental de áreas onde serão realizadas competições, como a Baía, ameaçam sucesso do evento

No dia seguinte a uma frente fria com ressaca típica do inverno carioca, um forte odor de enxofre, provocado pelo revolvimento de matéria orgânica em decomposição nas lagoas da Barra, avança sobre a Vila dos Jogos Pan-Americanos de 2007, onde estão hospedados oito mil atletas. O evento segue no mar de Copacabana, onde os triatletas nadam na água contaminada pelas línguas negras em busca do ouro. Nas raias da Lagoa Rodrigo de Freitas, os barcos de remo travam nas algas que tomam o espelho d’água. Em embarcações maiores, o Pan veleja para as águas da Baía de Guanabara, até que um saco plástico prende no leme do líder de uma prova de iatismo, tirando-lhe a vitória.
A degradação ambiental pode derrotar o Pan no Rio. As projeções, longe de serem catastróficas, são uma possibilidade, já que ilustram problemas que fazem parte da rotina do carioca. O risco ainda aumenta em julho, quando será realizado o Pan-Americano. O oceanógrafo Leonardo Marques da Cruz avisa que julho é um dos meses de maior freqüência de frentes frias associadas a ressacas - justamente as que trazem problemas para as praias e lagoas.

Prefeito: meio ambiente não é critério para o Pan
Um sobrevôo de helicóptero, realizado há alguns dias por repórteres do GLOBO com o biólogo Mário Moscatelli, revelou que algumas áreas dos jogos - como a Vila do Pan, a Lagoa e a Baía de Guanabara - têm problemas ambientais. Moscatelli usou as imagens aéreas para fazer um diagnóstico das condições da Região Metropolitana do Rio e em especial de arenas do evento. Ele vai enviar o documento na próxima quinta-feira à Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) e aos ministérios públicos Estadual e Federal.
- Do ponto de vista ambiental, é seguro dizer que a cidade não está preparada para os Jogos Pan-Americanos e, claro, muito menos para uma candidatura aos Jogos Olímpicos - disse o biólogo.
Para o prefeito Cesar Maia, porém, os problemas ecológicos não comprometem a imagem dos jogos e da cidade:
- O meio ambiente será um critério decisivo para os Jogos Olímpicos de 2016, mas não para o Pan - disse o prefeito, que anunciou ações de recuperação ambiental em conjunto com o estado e a União com vistas à candidatura olímpica.

O prefeito disse ainda que já está em andamento uma obra de recuperação de um canal próximo à Vila do Pan. Mas o problema na casa dos atletas é maior. A construção é cercada pela combinação das cores verde, marrom e preto das águas. A Lagoa de Camorim transformou-se num caldo verde, tomado por cianobactérias - algas que podem conter toxinas que atacam o fígado. Do outro lado da vila, há o negro Arroio Fundo e o Rio Anil, em tom marrom, que se transformaram em valões de esgoto a céu aberto.
A Cedae promete a entrega das obras de saneamento da Barra e de Jacarepaguá até o início dos jogos. Segundo a empresa, o quadro de degradação da região será reduzido assim que o sistema de captação de esgoto estiver em operação.
Além da vista degradante, o atleta pode ser obrigado a respirar enxofre, caso haja ressaca. A própria Feema admite o risco, dizendo que pode ocorrer um "desprendimento de gases, principalmente metano e gás sulfídrico, com possibilidade de odores desagradáveis". O mau cheiro pode avançar ainda por várias arenas dos jogos como o Riocentro, o Autódromo e a Cidade do Rock. Na Marina da Glória, onde os iatistas guardarão seus barcos, o sobrevôo revelou um aparente vazamento de esgoto numa galeria de águas pluviais, que se espalhava por parte da enseada. A Cedae disse que executa continuamente no local pesquisas que identificam e eliminam ligações clandestinas de esgoto. Na Lagoa, raia do remo, a vista aérea revelou proliferação de algas, lodo acumulado nas margens e outras manchas sobre a superfície. A Cedae confirma ter percebido uma mudança de coloração na cor da água em outubro, mas as análises feitas na ocasião não teriam constatado presença de esgoto acima do limite. Ainda não há resultados para as novas coletas.
Já em Copacabana, os triatletas terão que confiar nas análises da Feema. Entre 2000 e 2005, os resultados apontam, na média, classificação própria para o banho - 10% das análises estavam impróprias. Mas, num dos dias em que a língua negra avançou pelo mar, em junho deste ano, a Comissão de Meio Ambiente da Alerj apresentou um estudo independente que revelou contaminação em pelo menos quatro pontos da orla do bairro.
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